A minha barriga dobra

Sempre me incomodou essa atitude dela. Ela dobra. Sempre pensei nisso como um lembrete dela de que eu não era tão livre assim pra comer e beber o que quisesse: se tu te passar, eu vou dobrar mais.

Parecia uma punição por eu fazer as coisas que gosto sem pensar nas consequências dos meus atos.

Ela dobra quando eu sento pra ver o por do sol.

Ela dobra quando eu toco shekerê.

Ela dobra quando eu me alongo depois de correr.

Ela dobra quando eu danço.

Ela dobra quando eu agacho pra cumprimentar uma criança.

Ela dobra quando eu abaixo pra fazer carinhos nos doguinhos da redenção.

Ela dobra.

Sempre.

Não queria que dobrasse, mas ela é uma barriga e é isso que ela faz quando eu me curvo: ela dobra. Ela não tem outra opção se não ceder às curvas que eu proponho a ela com cada movimento que faço.

Esses movimentos aí, que pra mim são mais do que essenciais, me causavam um desconforto tremendo – e mesmo assim já eram especiais. A cada dia que passa aceito mais essas dobras que são tão minhas.

A barriga dobra parece de felicidade, por não se conter inteira em mim: ela quer participar comigo desses momentos. Ela dobra.

Vocês já apreciaram as dobrinhas de vocês hoje?

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